domingo, 24 de novembro de 2013

Soros e vacinas

O Dr. Vital Brazil Mineiro da Campanha, médico

sanitarista, residindo em Botucatu, consciente do grande número de acidentes com serpentes peçonhentas no Estado, passou a realizar experimentos com os venenos ofídicos. Baseando-se nos primeiros trabalhos com soroterapia realizados pelo francês Albert Calmette, desenvolveu estudos sobre soros contra o veneno de serpentes, descobrindo a sua especificidade, ou seja, cada tipo de veneno ofídico requer um soro específico, preparado com o veneno do mesmo gênero de serpente que causou o acidente.
Já em São Paulo, Vital Brasil identificou um surto de peste bubônica na cidade de Santos em 1898.
Iniciou, então, em condições precárias, o preparo de soro contra essa doença em instalações da
Fazenda Butantan. Essa produção iniciou-se oficialmente em 1901, dando origem ao Instituto
Serumtheráphico de Butantan, nome original do Instituto Butantan. Controlada a peste, o Dr. Vital
Brasil deu prosseguimento à preparação de soros antiofídicos nesse Instituto, para atender ao grande
número de acidentes com serpentes peçonhentas, já que o Brasil era um país com grande população
rural, na época, tendo, ainda, Vital Brasil iniciado a produção de vacinas e outros produtos para a
Saúde Pública.
Soros & vacinas são produtos de origem biológica (chamados imunobiológicos) usados na prevenção
e tratamento de doenças. A diferença entre esses dois produtos está no fato dos soros já conterem os
anticorpos necessários para combater uma determinada doença ou intoxicação, enquanto que as
vacinas contêm agentes infecciosos incapazes de provocar a doença (a vacina é inócua), mas que
induzem o sistema imunológico da pessoa a produzir anticorpos, evitando a contração da doença.
Portanto, o soro é curativo, enquanto a vacina é, essencialmente, preventiva.





A produção do soro 

Os soros são utilizados para tratar intoxicações provocadas pelo veneno de animais peçonhentos ou
por toxinas de agentes infecciosos, como os causadores da difteria, botulismo e tétano. A primeira
etapa da produção de soros antipeçonhentos é a extração do veneno - também chamado peçonha -
de animais como serpentes, escorpiões, aranhas e taturanas. Após a extração, a peçonha é
submetida a um processo chamado liofilizacão, que desidrata e cristaliza o veneno. A produção do
soro obedece às seguintes etapas:
1. O veneno liofilizado (antígeno) é diluído e injetado no cavalo, em doses adequadas. Esse
processo leva 40 dias e é chamado hiperimunizacão.
2. Após a hiperimunizacão, é realizada uma sangria exploratória, retirando uma amostra de sangue
para medir o teor de anticorpos produzidos em resposta às injeções do antígeno.
3. Quando o teor de anticorpos atinge o nível
desejado, é realizada a sangria final,
retirando-se cerca de quinze litros de sangue
de um cavalo de 500 Kg em três etapas, com
um intervalo de 48 horas.
4. No plasma (parte líquida do sangue) são
encontrados os anticorpos. O soro é obtido a
partir da purificação e concentração desse
plasma. 
5. As hemácias (que formam a parte vermelha
do sangue) são devolvidas ao animal, através
de uma técnica desenvolvida no Instituto Butantan, chamada plasmaferese. Essa técnica de
reposição reduz os efeitos colaterais provocados pela sangria do animal.
6. No final do processo, o soro obtido é submetido a testes de controle de qualidade:
6.1. atividade biológica - para verificação da quantidade de anticorpos produzidos;
6.2. esterilidade - para a detecção de eventuais contaminações durante a produção;
6.3. inocuidade - teste de segurança para o uso humano;
6.4. pirogênio - para detectar a presença dessa substância, que provoca alterações de
temperatura nos pacientes; e 
6.5. testes físico-químicos.
A hiperimunização para a obtenção do soro é realizada em cavalos desde o começo do século porque
são animais de grande porte. Assim, produzem uma volumosa quantidade de plasma com anticorpos
para o processamento industrial de soro
para atender à demanda nacional, sem
que os animais sejam prejudicados no
processo. Há um acompanhamento
médico-veterinário destes cavalos, além
de receberem uma alimentação ricamente
balanceada. 
O processamento do plasma para
obtenção do soro é realizado em um
sistema fechado, inteiramente
desenvolvido pelo Instituto Butantan,
instalado para atingir a produção de 600.





Vacinas

As vacinas contêm agentes infecciosos inativados ou seus produtos, que induzem a produção de
anticorpos pelo próprio organismo da pessoa vacinada, evitando a contração de uma doença. Isso se
dá através de um mecanismo
orgânico chamado "memória
celular". As vacinas diferem dos
soros também no processo de
produção, sendo feitas a partir de
microrganismos inativados ou de
suas toxinas, em um processo
que, de maneira geral, envolve: 
fermentação
detoxificação 
cromatografia 
Entre as vacinas produzidas pelo
Instituto, estão:
Toxóide tetânico: para prevenção do tétano. A produção de toxóide tetânico pelo Instituto
Butantan chega a 150 milhões de doses por ano, atendendo a demanda nacional. O toxóide
também serve para produzir as vacinas dupla (dTe DT] e tríplice [DTP].
Vacina dupla (dT): para prevenção da difteria e tétano em indivíduos acima dos 11 anos.
Vacina tríplice (DTP): para prevenção da difteria, tétano e coqueluche. Esta vacina é obtida a
partir de uma bactéria morta, o que constitui uma dificuldade em sua produção, pois a bactéria
deve estar em um determinado estágio de crescimento, que garanta à vacina, ao mesmo tempo,
potência e baixa toxicidade.
BCG íntradérmico: para prevenção da tuberculose. O Instituto Butantan produz cerca de 500 mil
doses de BCG por ano. Com novas técnicas de envase e liofilizacão, a produção deve ser
aumentada em 50%. 
Contra a raiva (uso humano): para prevenção da raiva. Produzida em cultura celular, que nos
possibilita ter uma vacina menos reatogênica.



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